quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

REPERCUSSÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DA CONFERÊNCIA

Como em toda primeira experiência, algumas falhas ficaram visíveis no bojo da realização da Conferência Gigante Tricolor Luis Osório. A falta de excessiva divulgação nos meios de comunicação de massa, a obrigatoriedade da inscrição apenas pela internet, e o agendamento previsto para dia e hora comercial, afastaram a possibilidade de maior contingente nos debates. Alguns dos freqüentadores evadiram-se pelo atraso do início da reunião em mais de uma hora, e pelo impedimento de melhor interação com o palestrante Marco Aurélio Klein (que fez uma brilhante exposição sobre o tema “A Indústria do Futebol no 3º Milênio”), para tentar remediar a corrida contra o relógio.
As discussões grupais com os cinco subtemas (Novos sócios/Reforma do Estatuto; Divisões de base, previdência e assistência médico-social dos atletas; Marketing e licenciamento de produtos; Planejamento e gestão do futebol profissional; Patrimônio e estádio), que deveriam ser em separado – evitando, por exemplo, o esvaziamento de importantes idéias a serem colocadas em pauta – funcionaram conjuntamente num pequeno auditório, obrigando os palestrantes a competirem com o tempo, de forma a não atropelar as atividades dos convidados seguintes, bem como a cerimônia de encerramento da Conferência, a ser realizada em poucas horas. Muitos torcedores-participantes se sentiram frustrados, por não lhes terem disponibilizado o uso da palavra. Tentaram controlar até mesmo o ex-meia Douglas, que não conseguiu esgotar a sua interação com o expositor sobre a previdência de ex-atletas. Houve ainda certo desentendimento entre um coordenador do evento e um torcedor decepcionado, por ter o desenvolvimento do seu raciocínio interrompido.
Quanto a abordagem dos temas, em algumas foi além, e em outros, aquém do necessário. Um perfeita ilustração ficou evidente nas discussões referentes a “Patrimônio e Estádio”, onde se viu sobejamente uma defesa pela preservação da Fonte Nova – o que não pode ser desprezado – ao invés de se levantar propostas para que o Bahia construísse a sua praça esportiva. Nem mesmo sobre a degradante situação patrimonial existente (Sede de Praia, Fazendão, etc.) entrou em pauta. De qualquer forma, “me atrevi” a sugerir pelo tombamento da torcida do Bahia como patrimônio imaterial, já que esta encontra-se em processo de extinção. Mas os seus rostos mostravam uma reação como se a iniciativa estivesse estranha à temática.
Ainda assim, em meio às deficiências em sua organização, a Conferência abriu alguns aspectos positivos. Num deles, as tradicionais críticas à direção do Esporte Clube Bahia deram lugar à maximização de contribuições objetivando tirar o clube do abismo em que se encontra na atualidade. É importante também destacar a percepção, tanto na reunião como nas conversas interpessoais, na certeza da luta incessante pelo objetivo maior.
É interessante que o relatório com o escopo do trabalho seja entregue aos dirigentes do Bahia, conforme visto nos jornais, mesmo ciente de que jamais venha materializar tais ações. Isto evita que eles procurem os órgãos de imprensa para lançar mais uma dessas leviandades consagradas, como a de que as oposições nunca os procuraram visando o entendimento pelo bem do clube.
Indubitavelmente, o maior desejo quanto à Conferência Gigante Tricolor, é o de que ela não se metaforize numa interrogação, e muito menos num ponto final, mas numa vírgula.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

CONQUISTA DO BRASILEIRO DE 1988: O INÍCIO DO FIM


De 1989 em diante, passou-se a generalizar entre os tricolores a importância do mês de fevereiro em suas vidas, partindo da conquista do Campeonato Brasileiro pelo clube, na edição do ano anterior. Livros, DVDs, brindes alusivos ajudaram a manter viva na memória do povo o elenco formado pelos heróis Ronaldo, Tarantini, João Marcelo, Claudir e Paulo Robson; Paulo Rodrigues, Gil e Bobô; Zé Carlos, Charles e Marquinhos. Confesso que essas comemorações em todo o dia 19.02 me deixam preocupado ano a ano. Isto porque todos passaram a se comportar como se o episódio nunca mais fosse reincidir. Um exemplo ficou claro na “festa dos 10 anos”, em 1999, quando lançaram camisas oficiais, além de reunir os atletas campeões numa partida contra um combinado de ex-ídolos da agremiação, em preliminar do confronto do grupo de profissionais diante do Camaçari, na Fonte Nova. Só podia sair mesmo da cabeça do presidente “Tiririca”, um dos piores da história do Bahia. Pelo menos nunca vi o Santos promover evento que celebrasse os mundiais interclubes de 1962/63, ou o Grêmio registrar algo que lembre a aquisição do troféu em Tóquio em 1981. Quem pensa como clube grande, imagina que um importante título se “comemora” conquistando outro.
Mas a maior reflexão que ficou nesses 19 anos, é a certeza de que os “eternos” não se prepararam para ganhar aquele Campeonato Brasileiro, e nem se organizaram para estabelecer um planejamento a médio e longo prazo, capaz de estimular o crescimento da marca Bahia em nível nacional e internacional, aproveitando a repercussão deste marco. Evidências não faltam:
1 – Às vésperas de se iniciar as quartas de finais contra o Sport-PE, a diretoria se desfez de dois dos importantes atletas que equilibravam o grupo: o goleiro Sidmar e o quarto-zagueiro Pereira, embora a entrada de Ronaldo e Claudir, respectivamente, não tenha oferecido grandes comprometimentos ao esquema do então técnico Evaristo de Macedo. Ora, já viu quem tem como meta um título de tamanha envergadura cometer um erro primário como este logo num momento crucial?
2 – A Associação Bahia Livre, certa ocasião em seu site, narrou sobre o problema com a fornecedora de materiais esportivos, cujo contrato havia expirado no bojo das etapas decisivas do torneio, o que obrigou ao clube jogar com uniformes de qualidade inferior, inclusive na estréia da Taça Libertadores – que veio logo em seguida – com materiais cedidos pelo Internacional, o que demonstra ausência de Planejamento em gestão esportiva para ser campeão do certame.
3 – Afora o 4º lugar em 1990, o Bahia sempre ocupou desde então posições vexatórias na tabela de classificação. Chegou a disputar o “Torneio da Morte” meses depois de erguer o troféu no Beira Rio (1989) e só não foi degolado em 1992 e 1995 porque o regulamento lhe foi favorável.
4 – Geralmente, o clube que planeja grandes conquistas não confia num elenco em sua maioria duvidoso (muita gente pode aqui ressaltar a qualidade de Bobô, Charles, Paulo Rodrigues, etc., com os olhos de hoje. Mas ninguém de sã consciência naquela época achava que sozinhos eram capazes de ir à final, a não ser mesclados de jogadores experientes, de preferência com passagens pela Seleção Brasileira e com títulos nacionais em seus currículos).
5 – O Bahia tinha ótimas oportunidades após a conquista, de reavivar o seu conceito internacional – basta lembrar que mais de 100 países viram as etapas decisivas do campeonato de 1988 e ainda seguiram os passos do clube na Taça Libertadores pela TV., ao vivo e a cores. O caminho natural era arrumar os passaportes para grandes excussões pela Europa e Ásia, mas preferiu se exibir pelos acanhados estádios no interior do Estado, pois era mais importante consolidar as bases eleitorais daquele que se intitulou “eterno presidente”. E quando foi à África no ano seguinte, envolveu-se num quadrangular no Gabão vencido pelo Vasco e, de forma até hoje misteriosa, foi o único dos clubes participantes que não viu a cor dos dólares que lhes eram destinados.Os aspectos supracitados são apenas uma amostra de que o Bahia, por meio de seus “eternos dirigentes”, iniciou a temporada de 1988 da mesma forma que as anteriores: sem planejamento, sem ter a certeza de como iria terminar. É óbvio que, dentro de uma visão atualizada, aquela memorável tarde de domingo vêm atenuando, e muito, os vexames e as humilhações que para nós vêm se tornando rotina. Mas, indubitavelmente, aquela conquista não foi fruto de uma engenharia, pois trata-se de um presente para a torcida tricolor, e que caiu do céu no colo de Maracajá, servindo para este desde então como sua peça de marketing pessoal, quando sempre questionado sobre os seus obsoletos e ditatoriais passos que colocaram o Bahia neste poço, cada vez mais sem fundo, sempre com a mesquinha obstinação a se manter no poder. Por mais bizarro que pareça, o Campeonato Brasileiro de 1988, que era para servir como marco do crescimento da instituição, terminou funcionando como início de sua decadência.

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