quinta-feira, 13 de março de 2008

MUDANÇA NO PERFIL DOS QUE DESEJAM SE ASSOCIAR AO CLUBE ASSOMBRA A DIRETORIA

A reportagem na edição do Jornal A TARDE de 13.03 – dando conta das queixas de alguns torcedores que foram impedidos de se associarem ao Esporte Clube Bahia – pode ter sido novidade para muitos, mas não surpreendeu a nenhum de nós, que acompanhamos com riqueza de detalhes o calvário institucional do clube há anos, bem como as artimanhas protagonizadas pelos péssimos atores que lá estão, no sentido de se manter no poder.
Até o final da década de 1980 – quando não havia problemas políticos, e muito menos clamores por eleições diretas – os “eternos” até faziam campanhas para adesão maciça de sócios, oferecendo brindes para os adimplentes e a contrapartida da então vistosa Sede de Praia aos familiares dos sócios patrimoniais e remidos. A justificativa era pertinente: reforço na reserva orçamentária da agremiação, de forma a torná-la cada vez mais gigante. Muitos devem se lembrar das idas religiosas de Maracajá às emissoras de rádio e TV. – por ocasião da conquista de 1988, mesmo com o recorde no número de adesões (cerca de nove mil sócios em dia) – reclamar da incompatibilidade do número de sócios, com o momento de grandeza em que a instituição vivia.
Até este período, os torcedores que desejavam fazer parte do quadro associativo ingressavam apenas por motivos lúdicos – tomar banho de piscina na Sede de Praia, ou participar dos bailes de carnaval, por exemplo – sem ter acesso com clareza às outras atribuições que lhes eram garantidas estatutariamente. No futebol, o Bahia detinha a indiscutível hegemonia regional e marcava sempre presença nas cabeceira da tabela dos campeonatos nacionais, cuminando com a posse da Copa União em 1988. Nas modalidades amadoras, o clube era frequentemente um dos favoritos nas competições em que se inseria. Sendo assim, os torcedores pouco se interessavam em saber, por exemplo, que era potencialmente um presidenciável, desde que, com o mínimo de uma anuidade de contribuições financeiras regulares. Em outras palavras, eles simplesmente iam se contentando com migalhas, sem ter noção de que as suas atribuições legais eram muito maiores.
A partir dos movimentos que sinalizavam a decadência do clube, o perfil dos interessados em se tornarem sócios começou a se modificar consideravelmente. Cresceu de forma significativa o número de torcedores ansiosos em compreender melhor aquilo que se passa na política interna do Bahia. O desejo de um título patrimonial agora é precedido das seguintes indagações: quem são os atores principais que comandam a instituição; O que fazem (inclusive em sua vida privada); o que pretendem (principalmente a médio e longo prazo, e não somente agora), questões que levam essas pessoas a inexorável leitura do arcaico estatuto, no sentido da compreensão de suas entrelinhas. Não é a toa que os reclamantes preteridos pelos “eternos” que apareceram na reportagem do periódico são jovens, e com menos de 20 anos.
Ciente de tudo isso, as velhas pragas maracajianas vêm fazendo um esforço descomunal, com vistas a manter as bases do perfil antigo, impedindo o ingresso de novos associados com tergiversações (promessas vazias e sem fim da análise curricular dos pretendentes), proibições de transferências (de pai para filho, por exemplo), alegações de falta de fichas cadastrais (em pleno momento de crise financeira, quando o preenchimento das lacunas poderia ser feito até mesmo em xérox), e até a justificativa fajuta do falecimento de um familiar de certo funcionário do clube. Nem mesmo quem já possui o precioso título escapa da sanha preventiva dos jurássicos diretores. Há algum tempo, a Associação Bahia Livre já alertava – como precaução sobre uma eventual inevitabilidade de eleições diretas – o recebimento do boleto mensal, apenas informando sobre cursos de natação e ginástica na Sede de Praia. Em nenhum momento, a cobrança deixa explicita de que se trata de uma vinculação do cliente à condição de associado do Bahia.
Em suma, muito mais que motivações lúdicas, o perfil daqueles que desejam se associar ao Bahia é o dos que querem tomar conhecimento (principalmente) das composições políticas que configuram a agremiação. E isso amedrontam aqueles que estão destruindo o clube que fingem amar, somente para se preservar nas delícias do poder, as expensas de muitos sofrimentos e humilhações por parte de um conjunto de cerca de 6 milhões de torcedores espalhados Brasil afora. É assim que uma instituição – capaz de colocar média de 60 mil pessoas por partida em um estádio, com ingressos a preço digno de cinema de luxo, para assistir espetáculos de quinta categoria no gramado – somente tem cadastrada cerca de míseros 200 sócios adimplentes, com mensalidades de R$ 20.
E antes que alguém aqui venha questionar a preocupação dos “eternos” em ainda manter o quadro associativo em vigor, o raciocínio é simples: o cumprimento de uma obrigação prevista no obsoleto estatuto, isto é, evitar interferências na legitimidade da Assembléia Geral - promovendo o disfarce de que se trata de uma entidade democrática. E como essa assembléia não produz nada politicamente (e nem eles desejam, sendo que para isso, utilizam de todos os mecanismos imorais para mantê-la afastada das decisões sobre o futuro do Bahia, a não ser quando necessário convocar discretamente para dizer amém aquilo que foi “determinado” pelas vacas de presépio do Conselho Deliberativo) só resta como contrapartida aquele esqueleto arquitetônico em que ora se encontra a Sede de Praia.