terça-feira, 7 de agosto de 2007

ENXOVALHAMENTO ADMINISTRATIVO E PESSOAL DE ANTÔNIO PITHON

Corria o mês de julho de 1996. A desastrosa gestão do então presidente Francisco Pernet (desde 1994 com a saída de Paulo Maracajá para o TCM) revelava um momento crítico na vida do Esporte Clube Bahia. A crise financeira sem precedentes havia obrigado ao torcedor se acostumar com as últimas colocações em campeonatos brasileiros. Os certames regionais recentes minguaram – há quem defenda que o gol antológico de Raudinei (1994) não deveria ter ocorrido, porque ajudou aos “eternos” passarem verniz numa madeira já internamente podre. Pernet – que nas conversas com os seus amigos que mandavam no clube, já admitia a sua incapacidade administrativa – recebia a anuência dos “cardeais” para procurar uma espécie de “saída honrosa”. Foi quando todos começaram a se aproximar de Antônio Pithon, indo ao seu escritório como numa verdadeira procissão, prometendo liberar, de imediato, as “vacas de presépio” do Conselho Deliberativo para despejar os trezentos e poucos votos naquele que tinha relevantes serviços prestados ao tricolor, mas era sempre visto com desconfiança quanto à possibilidade de comandar os destinos da agremiação. Temiam pela ameaça de verem os seus planos de perpetuação no poder ir por água abaixo.
Tudo isso mostra que o interesse dos “eternos” em patrocinar Pithon como salvador da pátria, dar-se-ia mediante a um preço muito alto a ser pago por este posteriormente, pois, Maracajá e Cia. estavam na verdade fabricando um bode expiatório; alguém para assumir a culpabilidade de uma bomba prestes a explodir, por acúmulo de sucessivos erros do passado.
Pithon recebeu a “permissão” para ocupar a presidência do clube há mais ou menos 30 dias da estréia do Bahia no Campeonato Brasileiro de 1996, na Fonte Nova, diante de um Palmeiras que na época padecia de uma hemorragia de dinheiro – resultante da vida fácil que o alviverde paulista levava por ser sustentado pela Parmalat. Enquanto por lá o plantel já estava pronto há muito, e cerca de 70 a 80% dos jogadores também vestiam a camisa “amarelinha”, nas bandas do Fazendão, o elenco ainda não tinha sido formado, já que, os cheques sem fundo e as notícias de títulos protestados que corriam o Brasil inteiro, fizeram com que a maioria dos atletas pesquisados, juntamente com os seus procuradores, encarasse como um verdadeiro pesadelo a idéia de vir para o Alto de Itinga. Esta comparação desproporcional forçava a continuidade de uma “herança maldita” dos tempos de Pernet: a aquisição de atletas superados para o futebol, ou de qualidade duvidosa para acompanhar o campeonato de calculadora na mão, de olho na rabeira da tabela.
Enquanto nos gramados a equipe fazia uma campanha que desafiava os tricolores com os mais sérios problemas cardíacos – escaparam do descenso na última rodada – Pithon até que, dentro das suas limitações, ia tentando recuperar parte do terreno perdido, apelando, por exemplo, para a sensibilidade de sua fanática torcida, que por sua vez, comparecia em peso a todos os jogos do clube, além de contribuir financeiramente, sempre que podia, através de uma linha telefônica disponibilizada pelo Bahia, valores que serviram para atenuar as principais despesas, e sem receber qualquer contrapartida da associação. O ex-dirigente foi o primeiro que se tem notícia, a abrir discussões quanto à possibilidade de permuta da Sede de Praia pelo Estádio Metropolitano de Pituaçu, junto ao Governo do Estado, ou de modo definitivo, ou em regime de comodato.
Entretanto, Pithon cometeu muitos erros, não que fossem determinantes para decretar o rebaixamento do E.C. Bahia para a Série B em 1997, mas, sobretudo, que culminaram no seu enxovalhamento administrativo e pessoal. Ele próprio reconheceu três falhas em entrevista no Jornal A TARDE em 16.09.2005, como o afastamento dos diretores de Relações Publicas, Nestor Mendes Júnior (a pedido de Osório) e de Futebol, Edmundo Pedreira Franco (por pressão dos “cardeais” Maracajá, Osório e Marcelo Guimarães, que queriam controlar o cargo através de um "testa de ferro", o incompetente Ruy Accioly); além de se recusar quanto a abertura de uma auditoria para avaliar as gestões de Maracajá e Pernet, acreditando ele que tal gesto lhe daria paz para trabalhar. Ledo engano!
Mas além de tudo isso, faltou a Pithon um diálogo mais aberto, franco com a torcida – que, por conta de manipulações, terminou vendo o ex-dirigente, de forma equivocada, como uma figura odiosa. Ele poderia não somente dizer, mas provar que a gênese das intermináveis crises não se deu durante o seu mandato, e sim de épocas anteriores. E para piorar, as constantes comparações do que ocorria no E.C Bahia com a associação rival – detentora da hegemonia do futebol baiano, e num momento muito favorável, devido a parceria assinada com o Banco Excel Econômico – irritava a galera, dando a ela a impressão de que era impossível ser diferente, por conta da inércia tricolor. E o próprio Pithon alimentava publicamente essas discussões, mencionando o que acontecia do outro lado, em meio a um assunto de grande ou pouca relevância, onde quer que houvesse um microfone. Outro ato de Pithon que chocou toda a nação tricolor foi quando o mesmo procurou a Revista Placar para uma reportagem na qual se mostravam as fragilidades na infra-estrutura do clube. Aquela imagem do escudo do Bahia machucado e da privada emborcada em um sanitário do Fazendão mexeu indubitavelmente com os brios dos torcedores. E os sanguessugas disso se aproveitaram.
Muitos setores da imprensa esportiva – que no período não usufruíam dos fartos “mimos” comuns na era dos “cardeais”, e inclusive nem a situação financeira permitiria – aproveitaram alguns deslizes de Pithon para abrir fogo contra o então dirigente. Execrações administrativas e até pessoais passaram a fazer parte das resenhas constantemente, bastando que o relógio apontasse meio-dia. Não eram raras nos programas de muitos radialistas ainda em atividade, as menções sardônicas à figura do ex-presidente. Oportunizaram, por exemplo, o boicote imposto pelos “eternos” – que dificultaram ao máximo a aquisição de jogadores pelo Bahia, através da influência acumulada junto aos dirigentes de outras agremiações Brasil afora – para fazer zombaria quanto ao caso do português Jorge Silva, passando aos olhos da consciência coletiva, a idéia de incapacidade no uso do cargo.
As linhas do presente texto são insuficientes para avaliar na exata medida, a passagem de Antônio Pithon pela presidência do Esporte Clube Bahia, mesmo que tal gestão tenha transcorrido de forma meteórica – 17 meses. Mas dá uma noção da necessidade de uma releitura desse período, reparando o estigma aviltante carregado pelo ex-presidente até hoje perante os torcedores, tudo para satisfazer a conveniências momentâneas – dos próprios opositores disfarçados de aliados aos olhos do povo, em conluio com setores de uma imprensa vendida. Mas é inegável dentre as inúmeras falhas de Pithon, a recusa de, após o rebaixamento de 1997, promover uma desvinculação solene com as pragas maracajianas – sugerido pelos seus próprios subordinados em diversas oportunidades – apresentando o seu projeto para a torcida, a tentativa de modificar o caos visível e notório, mas não muito claro para os incautos quanto aos seus atores responsáveis. Daí, sobrou para este ilustre tricolor, a difícil missão de se transformar no grande culpado por todas as desgraças vivenciadas no clube.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Wilson,

O valioso histórico, embora muito bem relatado por você, acerca do tema "FASE PITHON", deixa um hiato (1993 – 1996) referente aos anos que antecedem o mandato tampão de Pithon. Esse período é muito importante para que possamos fazer uma análise mais próxima da realidade e corrobora, de alguma forma, com os termos do texto analisado.

Faz-se mister lembrar que Pithon deveria ter assumido o clube no ano de 1994, não Pernet, como aconteceu, mas que foi barrado pelo grupo de Maracajá, que lhe "passou a perna", deu-lhe uma rasteira (termo mais apropriado porque se trata de pessoas rasteiras), colocando no cargo o inexpressivo, incompetente e "laranja" Francisco Pernet.

Toda a torcida do Bahia (onde me incluo) aguardava ansiosamente pelas mudanças que estavam por vir. O fato era tão esperado quanto certo, mas daí adveio à surpresa, quando deram o golpe e "puxaram", como um deliqüente "puxa" um carro, a cadeira do então arquiteto Pithon. Por quê? O fato era que não estavam digerindo muito bem as idéias, na época, de modernização que Pithon que pretendia implantar no Bahia, porquanto para que o tal salto de modernização fosse possível, a "caixa-preta" teria de ser aberta. O fato é que Pithon ficou para trás e teve que engolir aquele falso acordo de 2 anos para cada candidato (Pithon x Pernet), desde que Pernet fosse o primeiro a assumir, como de fato aconteceu. Ora, pensaram eles que o Bahia, nesse período, se recuperaria e assim ficariam mantidas as chances de Pernet se perpetuar no cargo, como "laranja", obviamente, que era. Ledo engano! Foram obrigados a aceitar o segundo período mandatário já com Pithon no poder, mas aí as dificuldades já eram tamanhas que este teve o início de seu mandato prejudicado sobremaneira, não só pelas dificuldades naturais de um clube à beira da falência, como também pelos inúmeros boicotes dos inimigos (nada ocultos), que formavam o grupo chamado "maracajaismo".

As idéias de transformar o clube em S.A., na realidade, foram de Pithon, mas não no modelo acertado pelo então futuro mandatário - “Tiririca” -, que entregou de bandeja o Bahia aos "ratos" do Oportunity, comandados pelo economista baiano (agora bastante notório em razão dos escândalos financeiros), Daniel Dantas, encetando um contrato flagrante e totalmente desfavorável aos interesses do clube. Um "sonho" que se transformou no pior dos pesadelos: o BASA.

Como se depreende dos termos de seu texto, Wilson, com o qual concordo, Pithon foi mais vítima que algoz. Ele foi punido por suas idéias, às vezes até extravagantes, mas que poderiam ter colocado o Bahia em outro patamar (superior), porém foi barrado pelo terrível e temível grupo, este sim, o verdadeiro inimigo do clube, que até hoje não consegue "largar o osso". Pithon foi, sim, o escolhido, naquele momento, para ser o bode expiatório. Estigmatizado como um administrador desastrado, oposto daquele que "eles" pretendiam vender a imagem, como de fato o fizeram, a do salvador da pátria: Marcelo "Tiririca" Guimarães - o pior dos piores de todos os tempos - no dizer deles: "um homem rico, disposto a gastar e injetar dinheiro no clube, dinâmico e que ama o Bahia acima de tudo..."Só rindo.

Muito difícil comentar tal assunto, principalmente porque a imprensa envenenou, por completo, a imensa massa tricolor de tal modo, que quando alguém fala de Pithon, parece que mexe num vespeiro. É assunto proibido! Mas não é verdade que ele seja causador de todos os males do Bahia. Na realidade, esses males vêm de antes, muito antes de o mesmo ter assumido o Clube, e todos sabem disso, mas a imprensa jabazeira é terrível, tem força suficiente para fazer a massa acreditar naquilo que eles querem que acreditem.
De uma coisa fiquem certos, Pithon tentou mudar essa história, entretanto o grupo que estava por trás foi impiedoso e odioso (o quanto pode) e conseguiu alcançar o seu intento: manter-se no poder até os dias atuais e sem prazo de carência, nem de validade. Que Deus nos acuda!

Finalizando, Wilson, o seu texto retrata bem os aspectos político-administrativos daquela época; esquecendo-se, todavia, apenas de reportar-se ao período que antecedeu ao mandato de Pithon (1993 - 1996), período que vem explicitar a forma e o porquê da chegada do arquiteto ao poder naquele momento. Além do que o período reclamado retrataria com mais fidelidade os bastidores que impediram a assunção do poder por aquele que, na minha opinião, poderia ter sido o nosso Bebeto de Freitas, de hoje. Contudo, de qualquer sorte, lá chegou, posto que assumiu o poder, embora não tenha sido capaz de se desvencilhar do grupo mais pegajoso que já vi na minha vida - o grupo de Maracajá -, só não sei se por vaidade; por medo ou até mesmo por incompetência...E, certamente, nunca saberei.

Obs. Faço questão de frisar não ser amigo, nem parente e nem conhecido de Pithon, aliás, nunca o vi na minha vida, a não ser pela TV. Nem sei o que o mesmo faz da vida, nem se está vivo.

Parabéns, Wilson, pelo belo texto e por trazer à baila um assunto tão importante, mas tão esquecido, de propósito, pela nossa imprensa "jabazeira".

Uma coisa é fato, se tivesse eu na pele de Pithon, um livro de memórias já teria lançado, contando todos os percalços, intrigas e mutretas daquela época.

Um abraço.

Joca

Anônimo disse...

Eu até hoje fico pensando como um tricolor de coração como ANTONIO PITHON, foi execrado por jornalistas com ofensas a honra que orientados por pessoas ligadas a políticos e ao sr.daniel dantas(investidor dessas pessoas).abraço

Anônimo disse...

Fantástico texto wilson!!!

Wilson Santos disse...

Transcrevo, na íntegra, carta enviada para o meu e-mail pelo próprio ex-presidente.


EIS O TEXTO:


"Salvador, 13 de agosto de 2007


Caro Wilson Santos

Decadência do Esporte Clube Bahia

Realmente paguei um preço muito alto ao aceitar ser o bode expiatório, assumindo a culpa dos erros acumulados nas gestões dos anos 90 a 96. Foram 17 meses lutando contra as dificuldades próprias dos clubes de futebol do Nordeste e o que é pior, tendo adversários em campo e nos bastidores do próprio clube.

Não conseguia formar uma equipe de atletas e comissão técnica a altura das tradições do Bahia, nem conseguia manter diretores que não comungavam com as idéias dos “cardeais”. Faltavam recursos financeiros e dirigentes preparados para colocar em prática o planejamento elaborado. Contratei os serviços profissionais de Medina, vindo do Sul com larga experiência na formação de uma equipe de futebol já que os da Bahia eram severamente criticados pelos que desejavam o fracasso da nossa gestão. O relatório apresentado pela equipe de Medina não chegou a ser colocado em prática, os “cardeais” não permitiram!!!Contratamos os serviços da TLCK (Benedito Rui Barbosa), para desenvolver o plano de marketing, juntamente com Oscar Santiago. Só conseguimos colocar em prática o contrato com a Hiunday. Ao iniciarmos os entendimentos com Helena Landau, para por em prática o projeto “Pituassu” choveram os protestos da permuta da sede de Praia pelo Estádio Roberto Santos.


Ao renovarmos o contrato de fornecimento do uniforme das equipes de base e profissionais, constatamos que já teria sido antecipada a anuidade a ser paga pela Penalty. O mesmo aconteceu com a Renner pela publicidade das camisas. Participamos em Recife da Copa Renner, juntamente com o Sport e o Clube do Uruguai. A cota do Bahia já teria sido antecipada. Apenas tivemos a alegria de vencer o torneio.


A vinda do atleta Jorge Silva estava ligada ao convênio que seria celebrado com os clubes de Portugal e Espanha. O referido atleta jogava na segunda divisão da Inglaterra, tendo ótima participação, fato comprovado pela imprensa esportiva de Lisboa.
O empresário Dellano Vieira intermediário do contrato não era bem visto pelos “cardeais”, sabia muito sobre a negociação de “zagueiro baiano” com o Futebol Clube do Porto. A transferência de Jorge Silva foi boicotada dentro do próprio Bahia. Quando consegui a documentação machucaram o jogador no treino impossibilitando-o de jogar.


Mesmo com tantas dificuldades, em dezessete meses recuperamos o Fazendão, os troféus, o mobiliário, transferimos a Sede Administrativa para Ondina, recuperamos o Ginásio de Esportes que sediou partidas da Seleção Brasileira de Futsal. Oportuno dizer que em momento algum procurei a Revista Placar para mostrar o estado em que se encontrava a Sede de Praia. A iniciativa foi do nosso companheiro Nestor Mendes Júnior, excelente colaborador da nossa gestão. Lamento dizer que a saída de Nestor exigida pelos “cardeais” se constituiu em um dos erros por mim cometidos. O mesmo aconteceu com Edmundo Pedreira Franco, fui forçado a substituí-lo por Ruy Acioli, responsável direto, juntamente com os “cardeais” pela queda do Esporte Clube Bahia para segunda divisão.


Assumi sozinho a responsabilidade pela derrota.
Tomaram-me o poder em 25 de novembro em 1997 e me enxovalharam. Em novembro próximo completam-se dez anos, vale uma reflexão comparando dezessete meses (da gestão Pithon) com dez anos (das gestões Marcelo Guimarães / Petrônio Barradas).


Terei grande prazer em conhecê-lo.


Saudações Tricolor.


Antonio Pithon"