quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DE SANGUESSUGAS A BOBOS DA CORTE

“Vim aqui para mudar uma situação. Quando isso não é possível, é melhor uma troca de comando”. A frase do simpático técnico Sérgio Guedes pode servir de inspiração para as linhas que se seguem. E olha que ele não é culpado pelo estado de coisas a ridicularizar institucionalmente o Esporte Clube Bahia. Afinal, seria de uma enorme insanidade responsabilizar um treinador em dois meses e um gestor de futebol em apenas nove, pelo filme de terror que insiste em ser reprisado há mais de uma década. Mas este recurso ainda é sobejamente produzido por aqueles verdadeiramente culpados por sucessivos escândalos e vexames. Para eles é interessante a idéia, pois os livram da autoria desses bárbaros acontecimentos e forjam aos olhos dos incautos, a concepção bizarra na qual, as intermináveis crises administrativas são resultantes apenas de uma jornada infeliz, de uma escalação equivocada do comandante direto dos jogadores. E assim segue o ciclo: ano seguinte, renovam-se as esperanças (já na divisão inferior) e nada como uma temporada com alguns picos de três, quatro triunfos seguidos contra adversários pífios para conter a sanha da torcida – esta não mais ávida por títulos (ainda que nem ela mesma perceba isto), e sim por insignificantes agrados, como vencer BA-Vis (e torcer por tropeços do arqui-rival) e reavivar as glorias de um passado já distante (a exemplo da constante exaltação às estrelas já enferrujadas de campeão brasileiro).
E quanto aos déspotas de quinta categoria, em suas mentes corrosivas, até que reconhecem a necessidade de profundas mudanças, mas desde que sob o seu cetro. Eles se qualificam como agentes transformadores, mas na verdade se sentem sob risco de perda do tripé dinheiro-poder-holofotes, ao menor sinal de ameaça desses ditos “aventureiros”, “sanguessugas”, que ousarem a invadir seus palácios.
Alguns desses últimos, antes dispostos a permanecer na trincheira de luta por dias melhores, foram surpreendentemente cooptados pelos tiranos do palácio, no intuito de transformá-los em bobos da corte. E de tal forma que ameaçariam até a Chalaça no Paço Imperial, se neste mundo ele ainda estivesse. Os movimentos – vários deles batizados – em prol da modernidade, de vanguarda, foram cedendo espaço a declarações e atitudes vazias e estranhas, uma vez que as mãos encontram-se literalmente entrelaçadas às das “autoridades”, por conta de pequenos mimos, em detrimento de um objetivo maior. Um cargo aqui, um status de consultor ali, promessas de abertura democrática no falido reino tricolor (mesmo que seja só por brincadeira) foi a maneira vista como eficaz – bem a moda dos anos de “Futebol, Paixão e Catimba” – para garantir em momentos conturbados a paz que desejam os “monarcas”.
Mas não há problemas. Sábio é o povo quando diz que as boas maçãs são facilmente estragadas em contato com as podres. E quando se completar o processo de deterioração dos frutos, a atitude no mínimo decente a se esperar, é que os agora bobos do palácio tenham a grandeza de ao menos reproduzir – juntamente com as eternas forças do atraso – o gesto do técnico Sérgio Guedes, sintetizado no início desta redação. E que tenham merecido lugar no ostracismo, para o bem, e pelo resgate institucional tricolor.
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